Sei que o ultraseven está em dívida com o blog e que o assunto, em tempos de velocidade da luz na mídia, o assunto já passou, não é mais notícia. Sei que o texto talvez tenha saído um pouco longo, mas o fim do R.E.M. simplesmente não dá pra passar batido. Se quiserem podem pular todo o blablablá e ir direto ao ponto que interessa, uma bela seleção de músicas de toda a carreira do R.E.M. ao fim do post.
Uso o iTunes pra ouvir música no computador. Nele tem uma pasta separada com as minhas músicas favoritas do R.E.M. É música pra caramba. Ouvi R.E.M. pela primeira vez ali por 88/89. Era a fase do GREEN, que foi o primeiro disco que lançaram por uma grande gravadora. Era época de Stand, Pop Song 89, canções em alta rotação nas rádios-rock da época. Mas a gente não gostava das canções pops, a gente preferia as mais “alternativas” como World Leader Pretend.
O R.E.M. surgiu em 1980, no circuito das college bands, estudantes da Universidade de Athens Georgia. Peter Buck trabalhava em uma loja de discos e fez amizade com Michal Stipe por dividirem os mesmos gostos: Beach Boys, Velvet Underground, Pattti Smith, The Byrds, Television. Na universidade conhecerem Bill Berry e Mike Mills que já eram amigos e já tocavam juntos desde a adolescência. Decidiram formar uma banda só pra ver no que ia dar. Murmur, o primeiro álbum é absolutamente clássico e imprescindível do começo ao fim. Mesmo 30 anos depois ainda permanece um álbum límpido, simples, impecável. Desde então percorreram um longo caminho pelo circuito alternativo até que Document (1987), disco de The One I Love e It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine), o álbum se tornou destaque entre as bandas alternativas. Graças a esse disco assinaram com uma grande gravadora. Algo que fizeram de forma relutante, com receio de perder o controle sobre seu trabalho, mas a banda já existia há mais de sete anos, longa jornada em que foram galgando passo a passo um público maior, sem perder sua base de fãs.
Exatamente no ano em que o Nevermind do Nirvana completa 20 anos, é preciso lembrar que se não fosse por bandas como R.E.M. talvez toda a explosão da cena alternativa no início dos anos 90 nunca tivesse acontecido. Enquanto o Nirvana estourou literalmente de um disco pro outro, R.E.M., Sonic Youth, The Replacements, Hüsker Dü e outros ficaram anos sedimentando uma cena alternativa que incluia estações de rádios, selos, circuito de shows e lojas que possibilitavam a vida de dezenas de pequenas bandas, independente das grandes gravadoras e mídia. Quando o Nirvana surgiu, o cenário estava pronto, só faltava uma banda para ocupar o palco, e o Nirvana foi um dos principais destaques.
A outra foi o R.E.M. Quando surgiu Out of Time, os fãs antigos ficaram meio desconfiados, o disco mostrava um R.E.M. em versão que parecia mais palatável, mais “calmo”, “light”. Lembro que o André Forastieri publicou na Bizz que o R.E.M. “caetaneou” com Losing My Religion. Mas não teve como resistir, Out of Time venceu a resistência dos fãs antigos e vendeu milhões e milhões e conquistou uma legião mundo afora, o vídeo de Losing My Religion não parava de passar, ganhou prêmios da MTV. Nessa hora a gravadora pensou: “É agora! Vamos faturar!”. A banda tinha outros planos: “Nada de shows pra promover esse disco, não estamos a fim” Como assim? “Pois é, sem tour, vamos ficar na boa e entrar em estúdio pra fazer o próximo disco”. O máximo que teve foram algumas entrevistas e um unpluged pra MTV, básico, sem a superprodução que o especial da MTV veio a se tornar depois.
No ano seguinte sairia Automatic For The People: mais acústico, triste, melancólico. Peter Buck e Mike Mills consideram este como o melhor disco da banda. Novamente se recusaram a fazer shows pra promover o álbum e novamente o disco vendeu milhões. Musicas “difíceis” como Drive, Everybody Hurts tocaram sem parar, Man on The Moon foi trilha do filme sobre o comediante Andy Kaufman.
Depois veio Monster, uma “volta” a um som mais pesado, participação de Thurston Moore do Sonic Youth. Os riffs de Peter Buck nunca soaram tão vivos, elétricos. Um álbum pra ouvir no último volume. Enquanto o Nirvana, a salvação do rock, entrava em colapso e Kurt Cobain, em meio à depressão e às drogas cometia suicídio, o R.E.M. mostrava como manter a dignidade e a cabeça no lugar mesmo com todas as pressões do mainstream. Mas, diferentemente do Nirvana, o R.E.M. demorou 10 anos labutando, tocando, viajando até chegar ao 1º lugar no Top 10 da MTV, com o Nirvana isso foi, literalmente, questão de meses. Em Monster existe a canção Let Me In, em homenagem a Kurt Cobain.
Além dos grandes discos que nos deixou, talvez essa tenha sido o maior legado que a banda tenha deixado: passar mais de trinta anos na estrada e não ceder às tentações do mercado, traçar seu próprio caminho, não virar uma só mais uma banda em uma propaganda de refrigerante. Talvez seus últimos lançamentos não tenha sido brilhantes, mas nunca foram medíocres ou feitos no piloto automático.
Enquanto ontem na tv via Stevie Wonder tocando para uma multidão no Rock in Rio, lembro que, assim como o Allan, vi o R.E.M. na edição de 2001. Show inesquecível, cheio de energia, simpatia, competência, daqueles que faz a gente voltar pra casa com sorriso no rosto e a sensação de que valeu a pena. O R.E.M. fez valer a pena, e muito.
Ailton de Oliveira (twitter: @kinemascopie)
Segue uma pequena lista com as preferidas, baixe e celebre o fim de uma grande banda.
Shaking Through - Murmur
Sitting Still - Murmur
Sitting Still (Live In Toronto 1983) - Murmur
So. Central Rain (I'm Sorry) - Reckoning
(Don't Go Back To) Rockville - Reckoning
Driver 8 - Fables of the Reconstruction
The One I Love - Document
Welcome To The Occupation - Document
It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine) - Document
Love Is All Around - MTV Unplugged - 1991
Losing My Religion - MTV Unplugged - 1991
It’s The End of the World As We Know It (And I Feel Fine) - MTV Unplugged - 1991
Nightswimming - Automatic For the People
Find the River - Automatic For the People
What's The Frequency, Kenneth - Monster
Let Me In - Monster
E-Bow The Letter - New Adventures In Hi-Fi
Electrolite - New Adventures In Hi-Fi
Bonus:
Um show do R.E.M. de 1982, na integra, disponível no youtube. Aproveite que existe programas que permitem que vc baixe os videos do youtube e guarde no seu hd.
Uso o iTunes pra ouvir música no computador. Nele tem uma pasta separada com as minhas músicas favoritas do R.E.M. É música pra caramba. Ouvi R.E.M. pela primeira vez ali por 88/89. Era a fase do GREEN, que foi o primeiro disco que lançaram por uma grande gravadora. Era época de Stand, Pop Song 89, canções em alta rotação nas rádios-rock da época. Mas a gente não gostava das canções pops, a gente preferia as mais “alternativas” como World Leader Pretend.
O R.E.M. surgiu em 1980, no circuito das college bands, estudantes da Universidade de Athens Georgia. Peter Buck trabalhava em uma loja de discos e fez amizade com Michal Stipe por dividirem os mesmos gostos: Beach Boys, Velvet Underground, Pattti Smith, The Byrds, Television. Na universidade conhecerem Bill Berry e Mike Mills que já eram amigos e já tocavam juntos desde a adolescência. Decidiram formar uma banda só pra ver no que ia dar. Murmur, o primeiro álbum é absolutamente clássico e imprescindível do começo ao fim. Mesmo 30 anos depois ainda permanece um álbum límpido, simples, impecável. Desde então percorreram um longo caminho pelo circuito alternativo até que Document (1987), disco de The One I Love e It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine), o álbum se tornou destaque entre as bandas alternativas. Graças a esse disco assinaram com uma grande gravadora. Algo que fizeram de forma relutante, com receio de perder o controle sobre seu trabalho, mas a banda já existia há mais de sete anos, longa jornada em que foram galgando passo a passo um público maior, sem perder sua base de fãs.
Exatamente no ano em que o Nevermind do Nirvana completa 20 anos, é preciso lembrar que se não fosse por bandas como R.E.M. talvez toda a explosão da cena alternativa no início dos anos 90 nunca tivesse acontecido. Enquanto o Nirvana estourou literalmente de um disco pro outro, R.E.M., Sonic Youth, The Replacements, Hüsker Dü e outros ficaram anos sedimentando uma cena alternativa que incluia estações de rádios, selos, circuito de shows e lojas que possibilitavam a vida de dezenas de pequenas bandas, independente das grandes gravadoras e mídia. Quando o Nirvana surgiu, o cenário estava pronto, só faltava uma banda para ocupar o palco, e o Nirvana foi um dos principais destaques.
A outra foi o R.E.M. Quando surgiu Out of Time, os fãs antigos ficaram meio desconfiados, o disco mostrava um R.E.M. em versão que parecia mais palatável, mais “calmo”, “light”. Lembro que o André Forastieri publicou na Bizz que o R.E.M. “caetaneou” com Losing My Religion. Mas não teve como resistir, Out of Time venceu a resistência dos fãs antigos e vendeu milhões e milhões e conquistou uma legião mundo afora, o vídeo de Losing My Religion não parava de passar, ganhou prêmios da MTV. Nessa hora a gravadora pensou: “É agora! Vamos faturar!”. A banda tinha outros planos: “Nada de shows pra promover esse disco, não estamos a fim” Como assim? “Pois é, sem tour, vamos ficar na boa e entrar em estúdio pra fazer o próximo disco”. O máximo que teve foram algumas entrevistas e um unpluged pra MTV, básico, sem a superprodução que o especial da MTV veio a se tornar depois.
No ano seguinte sairia Automatic For The People: mais acústico, triste, melancólico. Peter Buck e Mike Mills consideram este como o melhor disco da banda. Novamente se recusaram a fazer shows pra promover o álbum e novamente o disco vendeu milhões. Musicas “difíceis” como Drive, Everybody Hurts tocaram sem parar, Man on The Moon foi trilha do filme sobre o comediante Andy Kaufman.
Depois veio Monster, uma “volta” a um som mais pesado, participação de Thurston Moore do Sonic Youth. Os riffs de Peter Buck nunca soaram tão vivos, elétricos. Um álbum pra ouvir no último volume. Enquanto o Nirvana, a salvação do rock, entrava em colapso e Kurt Cobain, em meio à depressão e às drogas cometia suicídio, o R.E.M. mostrava como manter a dignidade e a cabeça no lugar mesmo com todas as pressões do mainstream. Mas, diferentemente do Nirvana, o R.E.M. demorou 10 anos labutando, tocando, viajando até chegar ao 1º lugar no Top 10 da MTV, com o Nirvana isso foi, literalmente, questão de meses. Em Monster existe a canção Let Me In, em homenagem a Kurt Cobain.
Além dos grandes discos que nos deixou, talvez essa tenha sido o maior legado que a banda tenha deixado: passar mais de trinta anos na estrada e não ceder às tentações do mercado, traçar seu próprio caminho, não virar uma só mais uma banda em uma propaganda de refrigerante. Talvez seus últimos lançamentos não tenha sido brilhantes, mas nunca foram medíocres ou feitos no piloto automático.
Enquanto ontem na tv via Stevie Wonder tocando para uma multidão no Rock in Rio, lembro que, assim como o Allan, vi o R.E.M. na edição de 2001. Show inesquecível, cheio de energia, simpatia, competência, daqueles que faz a gente voltar pra casa com sorriso no rosto e a sensação de que valeu a pena. O R.E.M. fez valer a pena, e muito.
Ailton de Oliveira (twitter: @kinemascopie)
Segue uma pequena lista com as preferidas, baixe e celebre o fim de uma grande banda.
Sitting Still - Murmur
Sitting Still (Live In Toronto 1983) - Murmur
So. Central Rain (I'm Sorry) - Reckoning
(Don't Go Back To) Rockville - Reckoning
Driver 8 - Fables of the Reconstruction
The One I Love - Document
Welcome To The Occupation - Document
It's The End Of The World As We Know It (And I Feel Fine) - Document
Love Is All Around - MTV Unplugged - 1991
Losing My Religion - MTV Unplugged - 1991
It’s The End of the World As We Know It (And I Feel Fine) - MTV Unplugged - 1991
Nightswimming - Automatic For the People
Find the River - Automatic For the People
What's The Frequency, Kenneth - Monster
Let Me In - Monster
E-Bow The Letter - New Adventures In Hi-Fi
Electrolite - New Adventures In Hi-Fi
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Um show do R.E.M. de 1982, na integra, disponível no youtube. Aproveite que existe programas que permitem que vc baixe os videos do youtube e guarde no seu hd.
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