sábado, 8 de outubro de 2011

Scorsese virá a São Paulo para lançar livro na Mostra Internacional de Cinema.


Novo livro sobre Martin Scorsese conta trajetória do cineasta americano


'Conversas com Scorsese', de Richard Schickel, chega às lojas no próximo dia 20/10/2011.



A asma aumentava sua insegurança, tornando-o um garoto desprotegido. Dentro de casa, reinava a ansiedade, graças a uma família, apesar de amorosa, afeita a discussões. E a região onde morava em Nova York agravava a situação: conhecida como Little Italy, a área era ocupada, naquele início dos anos 1940, por uma classe trabalhadora, mas também criminosa, pois a Máfia expandia seu comando semioculto pelo bairro. "Quando ia ao cinema, ele estava escapando para um tipo de realidade bem diferente - melodrama e fantasia, com certeza, mas de um tipo, na verdade, menos ameaçador que as duras realidades que esse pequeno menino encontrava na vida diária", argumenta Richard Schickel na abertura do seu livro Conversas com Scorsese, que vai ser lançado no dia 20, pela Cosac Naify.



Trata-se de um longo e esclarecedor diálogo travado com Martin Scorsese, um dos maiores e mais profícuos cineastas da atualidade, autor de obras como Taxi DriverTouro Indomável Os Infiltrados. Também americano e diretor, especializado em documentários, Schickel aproveitou-se de uma amizade iniciada em 1973 para gravar uma série de encontros em que Scorsese detalhou sua vida e carreira, seguindo uma ordem cronológica. O resultado, semelhante ao já clássico Hitchcock/Truffaut - Entrevistas (Companhia das Letras), busca mostrar como anseios e sentimentos interferiram diretamente na criação de seus filmes. Mais: como o cinema se tornou não apenas o campo para exercício de seu talento mas também o caminho para a salvação espiritual.
"Marty sabe que talvez sua paixão pelo cinema seja exagerada e sua dedicação durante as filmagens às vezes beira o absurdo, mas uma coisa é certa: ele não faz filmes por acaso", disse Schickel ao Sabático, em entrevista realizada por telefone, de Los Angeles. Ele, que virá a São Paulo para lançar o livro na Mostra Internacional de Cinema - cuja abertura ocorre no dia 21 - acredita que tal paixão também representa sua salvação. "Ao longo de sua carreira, Marty oferece uma consciente observação sobre a violência da sociedade contemporânea, ou seja, quase sempre retorna à sua infância onde vivia em uma região marcada pela brutalidade."

Taxi Driver pic2.png


Nascido em 1942, no bairro do Queens, em Nova York, Scorsese descobriu, ainda pequeno, que teria dificuldade de adaptação em uma região onde seu pai era obrigado a se alinhar com uma família do crime para garantir a manutenção da tranquilidade. "Lá, havia uma porção de gente vivendo amontoada. E muita tensão", relembra o cineasta. "Era em uma catedral católica onde eu encontrava certa paz e um pouco de proteção."
E também nas salas de cinema. Doente, Scorsese vivia isolado, desobrigado de realizar qualquer tarefa física. Assim, o ritual de assistir a filmes ao lado do pai Charles tornou-se vital. "Aquilo que Marty observou e aprendeu em seus anos de formação foi a melhor preparação possível para a carreira que ele assumiu depois", escreve Schickel, no livro. "O que é, por sua vez, um jeito de dizer que, num sentido bastante profundo, ele é autobiográfico - não tanto do ponto de vista episódico, mas de vida anterior, de temores nos anos formativos."
O cineasta conta que sentia a presença da fé quando ia à igreja - e também ao cinema. Afinal, os cartazes do lado de fora vendiam sonhos e, lá dentro, a fantasia tornava-se real. Aos poucos, Scorsese começou a decifrar a gramática cinematográfica. "Com meu pai, assisti a Assim Estava Escrito (de Vincente Minelli, 1952), primeiro filme que vi sobre o processo de realização de um filme", relembra. "Também O Monstro do Ártico (de Christian Nyby e Howard Hawks, 1951), uma experiência incrível, o choque, o humor, os diálogos sobrepostos."

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