domingo, 23 de outubro de 2011

No México, os internautas na mira do governo e dos cartéis

Boca del Rio Photos

“A liberdade de expressão venceu!”, comemorou Maria de Jesús Bravo ao sair da prisão, na quarta-feira (21), no Estado de Veracruz (leste do México). Essa jornalista e ex-funcionária pública de 34 anos corria o risco de ser condenada, juntamente com outro usuário mexicano do Twitter, a 30 anos de prisão por “terrorismo” e “sabotagem”, após ter publicado, no final de agosto, falsos alertas sobre ataques de narcotraficantes em escolas da região.
Sob pressão de organizações nacionais e internacionais, o Ministério Público retirou as acusações contra eles. Uma vitória não muito satisfatória para os defensores do direito à informação, que denunciam as novas sanções das autoridades e a violência dos cartéis das drogas contra os internautas.
No dia 25 de agosto, Maria de Jesús Bravo e Gilberto Martínez, professor de matemática de 35 anos, postaram mensagens em seus perfis do Twitter e do Facebook anunciando tiroteios e sequestros em estabelecimentos escolares das cidades vizinhas de Veracruz e Boca del Río. 



Esses falsos alertas deixaram em pânico centenas de pais, que foram buscar seus filhos nas escolas.
No dia seguinte, os dois autores foram detidos pela polícia, uma vez que os posts online se tornaram um meio adotado pelos moradores para se informarem sobre atos de violência associados à guerra dos cartéis. No dia 20 de setembro, na zona turística de Boca del Río, 35 corpos (23 homens e 12 mulheres) contendo indícios de tortura foram descobertos em duas caminhonetes abandonadas em uma avenida movimentada.

Perturbação da ordem pública através de redes sociais


“Essas acusações de terrorismo são exageradas”, reagiu, no final de agosto, Francisco Javier Castellón, senador do Partido da Revolução Democrática (PRD, oposição) e presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Congresso Federal. Desde então, ao lado de organizações internacionais, como a Repórteres Sem Fronteiras e a Anistia Internacional, este último passou a militar pela libertação dos dois internautas.
O encerramento do caso decidido pelo juiz anula as acusações contra eles, mas a questão motivou a votação, no dia 20 de setembro, pelo Congresso de Veracruz, de uma lei instaurando o delito de “perturbação da ordem pública por meio de redes sociais”, passível de uma pena de um a quatro anos de prisão e de uma multa de 1.500 a 3.000 euros [R$ 3.855 a R$ 7.710].
Desde o dia 1º de setembro, o Estado vizinho de Tabasco (leste) também está punindo os autores de rumores pela internet sobre atos de violência. “Essas medidas punitivas, em debate em outras regiões, refletem o desconhecimento das autoridades em relação às novas tecnologias”, aponta Allende Márquez, professor de comunicação no Instituto Tecnológico de Monterrey.

Tabasco

E Dario Ramírez, diretor para o México da Artículo 19, organização de defesa da liberdade de expressão, acrescenta: “Essas leis autoritárias visam sobretudo intimidar as pessoas que criticam a estratégia do governo contra o narcotráfico”.
Tanto que os internautas também estão na linha de mira do crime organizado. No dia 13 de setembro, os corpos de um homem de 25 anos e de uma mulher de 28 anos foram encontrados pendurados em uma ponte na cidade de Nuevo Laredo (Estado de Tamaulipas, nordeste), depois que denunciaram um cartel na internet. “Isso acontecerá com todos que postarem coisas engraçadas na internet”, ameaçava uma mensagem perto dos cadáveres.


Nuevo Laredo
Contra o fogo cruzado dos criminosos e das autoridades, os blogs, entre eles o megajusticia.blogspot.com, publicam conselhos aos internautas para protegerem seu anonimato. Estaria a internet se tornando o novo campo de batalha de uma guerra que fez mais de 41 mil mortos desde 2006?


fonte: UOL

Le Monde
Frédéric Saliba
No México

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