segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

'Touch' marca retorno de Kiefer Sutherland à TV em série ousada.

Touch, série que traz Kiefer Sutherland de volta à TV (estreou na última quarta nos EUA e chega ao Brasil em março), é um produto nonsense bem acabado, solene e sentimental, cujo tema inegavelmente interessante é que existe uma ordem mística e matemática no universo, para sanar nossos males, proteger nossas crianças e concretizar nossos sonhos. A pretensão ousada é que as inúmeras coincidências e tramas curiosamente interdependentes serão tomadas como um sinal de que aquilo partiu dos anjos. Mas terei que ficar aqui, do lado dos primatas.

O ator (Kiefer Sutherland) como Martin Bohm em cena da nova série

Assista abaixo ao trailer da série legendado em português:



O piloto foi ao ar nos EUA como "evento de pré-estreia", antes de entrar no seu horário regular em março, quando estreará em mais de cem países quase simultaneamente – isso, quando menos, é um sinal do apelo internacional do astro.

Sutherland, que conseguiu manter Jack Bauer interessante por oito temporadas de 24 Horas, é agradável e deve ficar cada vez mais se os enredos lhe permitirem relaxar um pouco – ele estava bem tenso quando nos encontramos.

Na trama, ele é Martin Bohm, "ex-repórter muito bem remunerado" que, após a morte da mulher, corretora da Bolsa, nos ataques do 11 de Setembro, acaba em uma série de subempregos e, agora, é carregador de bagagens no aeroporto John F. Kennedy.
Nesse tempo, ele não conseguiu estabelecer contato significativo com o filho presumidamente autista, Jake (David Mazouz), mas descobre que pode acalmá-lo com refrigerante de laranja e que o menino gosta de celulares, que Martin traz da seção de achados e perdidos do aeroporto.  Jake não fala, odeia ser tocado, rabisca números compulsivamente e começou a escalar torres de rádio, um hábito que trará para sua vida uma assistente social (Gugu Mbatha-Raw), representando a razão prática, e a familiar "pessoa idosa com conhecimento místico" (Danny Glover, num roupão de banho).

É o personagem de Glover que diz a Martin o que Jake, em uma narração em off na abertura, já disse ao público: "Tudo é predeterminado por probabilidades matemáticas, e é minha missão monitorar esses números, fazer a conexão para aqueles que precisam se encontrar".  
A série anterior do criador Tim Kring (Heroes) também era ligada a assuntos de destino, consciência superior e humanidade em evolução. Como nessa série (e como em Lost, que também conseguiu se prolongar com números misteriosamente recorrentes), Touch é um drama quase religioso decorado com nacos de "ciência": entrelaçamento quântico, teoria das cordas, números de Fibonacci, razão áurea e ondas eletromagnéticas. "O fio vermelho do destino" e "a roda cósmica da humanidade" também têm lugar no enredo.  

O episódio chega a uma conclusão que é o equivalente dramático de uma tacada de sinuca que encaçapa todas as bolas de uma vez. Ironicamente, como se trata de uma série que deseja tocar seu público – desde a significativa palavra única do título –, praticamente não encontramos, exceto Martin, um único personagem que seja mais do que a sugestão de uma pessoa real. Elas próprias são números, valores algébricos numa equação complicada que não parece mais convincente pela maneira elegante como se resolve. 

fonte: Robert Lloyd, Los Angeles Times.
         tradução: Celso Paciornik




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